Baseado na pesquisa de fontes inquisitoriais inéditas, o livro “Os Judeus que construíram o Brasil” (Editora Planeta), de Anita Novinsky, Daniela Levy, Eneida Ribeiro e Lina Gorenstein, busca apresentar uma nova visão deste importantíssimo capítulo da história do Brasil: a história dos cristãos-novos.
A obra, que será lançada em São Paulo no dia 15 de fevereiro, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, traz os destaques mostrados abaixo:
Segundo os cronistas do período colonial, 75% da população era constituída por cristãos-novos, proprietários de largas extensões do território brasileiro. Documentos mostram uma grande quantidade de cristãos-novos no clero católico, nas ordens religiosas e nos conventos. As tradições judaicas eram mantidas em sigilo.
No primeiro século de sua existência, a Companhia de Jesus – criada em 1534-, permitiu a entrada de inúmeros cristãos-novos, o que despertou uma acirrada rivalidade interna, levando, a partir da última década do século 16, à intolerância que acabou lhes fechando as portas.
PAPEL FUNDAMENTAL
Na Colônia, os conversos [convertidos ao cristianismo à força, por decreto de Dom Manuel I, em 1497] desempenharam um importante papel no desenvolvimento econômico e financeiro: por meio do comércio internacional, abriram novas perspectivas, tornando-se pioneiros no desenvolvimento do capitalismo comercial brasileiro, como já demonstrado nos trabalhos de Jonathan Israel.
Surpreende também o nível cultural dos habitantes da Colônia. Obras de filósofos como Virgílio, Ovídio, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, eram lidas. Todas proibidos pela Igreja.
Algumas bibliotecas continham grande variedade de títulos e pertenciam a uma elite intelectual cristã nova, entre eles o pai do renomado poeta Antônio José da Silva, conhecido como “O Judeu”. As obras também eram lidas em regiões mais distantes, como Goiás.
DESCONSTRUÇÃO DE MITOS
A documentação desfaz o secular mito sobre a aversão dos judeus ao trabalho agrícola. E a fidelidade dos conversos na Bahia contra os holandeses, em 1630, expõe outra das mentiras que estigmatizaram os judeus e seus descendentes.
Sobre os paulistas, inimigos da Espanha, e sobre o ataque das bandeiras às Missões jesuíticas, novos documentos alteram a versão historiográfica tradicional, que explica o conflito baseado em interesses econômicos.
A obra demonstra que essa guerra ocorreu também por motivos ideológicos, uma vez que a Inquisição sediada em Lima desejava exterminar os paulistas, que, segundo documentos, eram em sua maioria cristãos-novos. A comprovação da origem judaica de Raposo Tavares e outros bandeirantes, pode ser verificada nos processos inquisitoriais.
A FÁBRICA DE JUDEUS
O livro também revela os mecanismos do tribunal criado especialmente para perseguir e punir os judeus convertidos, criando uma verdadeira “fábrica de judeus” (segundo a expressão utilizada pelo Padre Antônio Vieira), que por meio da corrupção e de julgamentos teatrais, punia inocentes.
A Inquisição perseguiu milhares de brasileiros, destruindo gerações, mas alguns conseguiram escapar, infiltrando-se no sertão. Apesar das amargas experiências, o Brasil ainda era para esse grupo a “Terra da liberdade”, a “Nova Canaã”. A infindável perseguição forçou-os a criar sociedades secretas. Por intermédio delas, eles transmitiram clandestinamente suas esperanças, sonhos e tradições às futuras gerações.
A instituição do Tribunal do Santo Ofício Inquisição, a expulsão dos judeus da Espanha e a conversão forçada em Portugal marcaram uma nova era nesses países e trouxeram drásticas consequências para a vida ibérica: a longo prazo arruinaram o comércio português, fazendo emigrar do Reino os mais prestigiosos elementos, prejudicando por muitos anos, a produção nacional, destruindo famílias e negócios. A cultura judaica, florescente na Península Ibérica até o século 15, apagou-se.